quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Mais vale tarde do nunca....


Há uns anos atrás tive um caso de divórcio, digamos...invulgar.

Digo invulgar porque o meu cliente tinha cerca de 70 anos, a esposa era pouco mais nova, e o casamento já celebrara o quadragésimo aniversário.

O Sr.YYY, entrou no meu gabinete e comunicou-me que o divórcio era para ser rápido.

Contactei com a esposa, como é costume fazer-se, e com alguma relutância e pena, comuniquei-lhe as intenções do meu cliente. Adiantei que melhor seria, seguirmos pela via consensual, porque caso contrário, "havia lavagem de roupa suja" em tribunal, o que era de evitar, pois seria muito traumatizante.

Pouco depois, surgiu o telefonema da Colega que representava a esposa, como também é costume, muito ameaçadora, que fazia e acontecia, que não havia direito de o marido fazer uma coisa daquelas á cliente, etc., etc.

Procurei que entendesse, que não havia nada a fazer, que o meu cliente parecia anormalmente decidido.

Contei ao Sr. YYY, sobre o teor da conversa com a minha Colega, ao que simplesmente respondeu:"eu trato do assunto" e saiu do escritório.

Uma semana depois, telefona-me a Colega, desta vez extremamente nervosa, que era constantemente procurada pelo meu cliente, fazia-lhe esperas á porta da Camara Municipal onde era jurísta, que lhe exigia que fosse dado o divórcio pois estava a dar-lhe cabo da vida.

Quando me preparava para dar um correctivo ao cliente para que não procedesse daquela forma, surgiu a carta da Colega, onde me participava que afinal havia condições para seguirmos com o divórcio por mutuo consentimento.

Entretanto, fui procurada pelo filho mais velho do casal, para que lhe tratasse, também, do seu divórcio. Pelo que, simultaneamente, divorciei pai e filho.

Finalizados os processos, recebi o SrYYY, e não resisti a fazer-lhe a pergunta: "Porquê?, Porquê nessa idade e com quarenta anos de casamento??

O Sr. YYY era um militar na reserva, tinha um ar possante, falava pouco, mas com firmeza. Respondeu-me descontraído:

" Srª. Drª., tenho a idade que tenho, e casei relativamente cedo. Nunca fui feliz no casamento. É certo, que a minha mulher, perdão ex-mulher, é uma boa esposa, uma boa mãe e isso tudo...mas nunca me fez feliz na cama. Foi sempre, mas sempre uma mulher fria. Por isso procurei sempre noutros lados. Até que um dia, nem assim consegui ser homem, percebe não percebe? Os médicos diziam-me que era da idade.

Conheci entretanto uma senhora viúva, começamos a sair, e olhe fez de mim um homem outra vez, e sobretudo, fez-me feliz. É conservadora e avisou-me que para ser minha mulher de uma maneira tinha que ser de outra. Drª. vou-me casar com ela, mal que possa. Não vê o que me aconteceu?? ESTOU APAIXONADO"

Nunca mais vi ou ouvi falar do Sr. YYY, nem do filho, não sei se estão vivos, ou se estão bem. Mas muitas vezes recordo-me do senhor, dos 70 e tal anos e que por uma paixão de amor, tudo largou. Será que valeu a pena?? Será que só por ter tentado, já valeu a pena??

Só por curiosidade, saibam que a ex-mulher ficou com uma belíssima pensão de alimentos, e ainda o processo de divórcio não tinha acabado, parecia outra, muito mais solta e segura.

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