sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Filha da Serra Mãe


Encostou-se ao carro e viu as cores. Os azuis, os verdes, os quase pretos de tão negros serem. Vislumbrou a orla costeira, e a espuma do mar lá em baixo, ladeado por um lado da serra e por outro do céu.


Meu Deus pensou, como é linda esta serra este meu Mundo, Deus sabe o que fez quando mo deu.

A Serra, não se possui, nem no registo nem com uma escritura, possui-se no íntimo, no coração.

Recordou com nostalgia como lha ofereceram no seu dia de anos. Já não se lembrava se tinha sido com 7 ou 8 ou 9 anos, lembrava-se simplesmente da angústia. Tinha decorrido o dia do seu aniversário, recebera prenda de anos de todos, todos menos dos seus pais.

Eles eram difíceis mas também eram os que tinham dinheiro, e com dinheiro vinha sempre o mais caro, e quase sempre o melhor.

Mas naquele dia não.

Ninguém lhe disse nada, até que, quando a noite chegou perante todos, o pai disse que a prenda era inimaginável, mas só amanhã.

Foi a decepção, quando após a viagem no bote do Gabado chegou á praia e o pai disse: Vês? é esta a tua prenda, e apontou com o braço, uma casa velha de madeira, na praia implantada junto á serra.

Então era essa a sua prenda? Uma casa velha que era dela?

Não sabia ela, que a partir daí, tornou-se proprietária daquela serra, sem escritura, sem registo, sem documento ou papel, possui-a desde então no seu íntimo, impregnando-se para sempre na sua pele como uma tatuagem que nunca mais sai.

No dia em que Amstrong pisou a Lua, não o viu na televisão. O pai, de binóculos apontados á Lua, com os cotovelos apoiados no portão da casa de madeira de praia junto á serra dizia: a esta hora eles estão a andar na Lua...

Ela, o pai, a mãe e os chineses, teriam sido os únicos no mundo que não viram Amstrong pisar a Lua, ironicamente, mais tarde acabou por vê-lo, vezes sem conta, através das imagens que se repetiam sucessivamente na televisão, video, internet e sei lá mais o quê...

Serra da Arrábida, que tens tu que as outras não têm, que fazes poetas como Sebastião da Gama te quererem tanto.

Encostada ao carro, deleitou-se com a imagem que Deus lhe proporcionou quando escreveu aquela serra.

Será pelo seu misticísmo deixado pelos Franciscanos? Pelo clima, que dizem ser tão diferente? Pela vegetação única no mundo? Pelas cores do mar?

A psicoterapeuta dizia-lhe que tinha a ver com a sua relação com a mãe. Não era por acaso, acrescentava, que lhe chamavam Serra Mãe, que as suas formas arredondadas eram como tetas. Que a Serra a adoptara como filha e ela como sua mãe adoptiva...

Não sabia, encostada ao carro deslumbrada com o que a natureza lhe dava de graça, recordava quando miúda, e apesar da troça dos outros, se sentava sobre a rocha diante da sua casa, e ficava a olhar para o mar, para o por do sol que se punha lá atrás da serra, e ali ficava parada, serena e em repouso.

Encostada ao carro, continuava sem entender que tinha aquela serra para provocar o efeito que tinha sobre si.

Provavelmente nunca a iria possuir no papel, provavelmente nunca a iria habitar, mas podia sempre vê-la e estar com ela, afinal quando se ama não é preciso possuir, basta estar.


"Á Serra da Arrábida com carinho"
Primeiro texto de 2011




quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

um ano novo sereno e confortavel para todos

SÃO OS VOTOS  DO
 ESPAÇO JURÍDICO.

E NÃO ESQUEÇA DE O PLANEAR...DESTA VEZ SEM SONHOS DE GRANDEZA...MAS SIM CAUTELOSOS, PRUDENTES BEM PENSADOS.

A CRISE, ESSA NÃO ESTÁ Á PORTA, JÁ ENTROU NAS NOSSAS CASAS E ESTÁ INSTALADA, NÃO SE SABE POR QUANTO TEMPO. DEVEREMOS PORTANTO RESPEITÁ-LA, E COM PRUDÊNCIA, TENTAR ULTRAPASSAR UM PERÍODO QUE NOS AVIZINHA MUITO LONGO.

                                                                                                          Helena de Brito

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

OS BILHARACOS

O Natal está sempre ligado a algumas ideias, que nos surgem imediatamente na nossa mente,quando nos aproximamos deste dia festivo.
As prendas, o Menino Jesus, o Pai Natal, a Arvore de Natal, os doces, o bacalhau, o perú, o cabrito ou borrego, velinhas, cheirinhos a canela, bolo rei e tantas outras coisas.
No entanto, há diferenças de hábitos entre as famílias.

No meu escritório, quando se elaboram os acordos de regulações de poder paternal, e se chega aquela parte de decidir com quem ficam os filhos nestes dias, surgem muitas vezes as diferenças de hábitos, entre as famílias do pai e da mãe.
Em geral faço sempre a seguinte pergunta:" então e o senhor(a), dá mais importância á Consoada ou ao Dia de Natal?"
É sempre mais fácil quando esta diferença existe, porque o menor passará com o progenitor, no dia a que a família deste dá mais importância.

Quanto ás prendinhas, as famílias divergem na forma como estas são oferecidas.
Na casa dos meus avós, depois de comer o bacalhau cozido acompanhado de couve portuguesa, os familiares dividiam-se entre a cozinha e a sala de jantar.
Geralment os homens ficavam na sala a conversar, e as mulheres iam todas para a cozinha, e enquanto umas lavavam e arrumavam a loiça, as outras acabavam de fritar as filhós, cuja massa, tinha sido amassada e estendida pela minha avó, durante toda a tarde.
Depois... passava-se para o cacau da meia noite.
A mesa era novamente posta, e ficava assim até ao jantar do dia seguinte.
Os pratos dos doces eram meticulosamente colocados na mesa e servido o cacau bem quente.


Esta era a melhor altura para os pequenos.

O ritual consistia no abandono da mesa pelo membro mais velho, que ardilosamente ia por as prendas nos sapatos que estavam na chaminé. Depois saia outro, para fazer o mesmo, e por aí a fora, até que, todas as prendas estavam distribuidas.
Quando o ultimo acabava, alguem insinuava que o Menino Jesus estava na cozinha a por as prendas nos sapatos, e que se tinha de ter muito cuidado, porque se Ele se assustasse fugia, e já não havia prendas para ninguem.

Ao cabo de alguns minutos, era a vez dos mais pequenos irem espreitar, abrindo com muito cuidado a porta da cozinha, muito devagarinho, para ver se já lá estavam os presentes...e depois... era a gritaria de felicidade.

Os miúdos na sua inocência, acreditam de tal forma nestas fantasias, que a minha filha chegou mesmo a ver o Menino Jesus a afastar-se em direcção ao Céu, lá longe.

Na casa da minha avó, as vedetas da mesa de Natal eram mesmo as filhós ou filhoses.

O segredo, estava na massa muito fina e na fritura.
Eram postas numa panela cheia de azeite quentíssimo, e tinham que se ir regando com uma colher.
Se não empolassem, era o fracasso total.
Para ficarem perfeitas, tinham de ficar ocas e muito finas.
Depois fazia-se a calda á base de água, açucar e casca de laranjeira, regavam-se as filhós com a calda e pronto.

Mais tarde a minha sogra, introduziu outro frito, os bilharacos, que são afinal os sonhos de abóbora, mas que na zona de Aveiro têm aquele nome.
Desde muito jovem que fiquei encarregue de por a mesa da Consoada e do Natal. Com o passar dos anos, a mesa passou a ser cada vez mais bonita e cuidada, ficando ao mesmo tempo, requintada e acolhedora.
Desde a escolha das velas, do serviço, da colocação dos talheres e dos copos, fui transmitindo gradualmente, a importância da boa apresentação da mesa de Natal.
O Natal é também isto...mas...quando deixa de haver crianças e desaparecem os mais velhos, os verdadeiros catalizadores da família, como era o caso dos meus avós, não há dúvida, que o Natal perde-se um pouco.
Com a proliferação dos divórcios, da diminuição da natalidade, e do desaparecimento da ideia de família, o Natal perde o seu sentido, e para muitos, passa até a ser uma época triste desejando que passe depressa.

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, e os hábitos...mas....lá no fundo, é concerteza dos dias mais relevantes na nossa memória.

RECEITA DOS BILHARACOS
Receita tradicional em Ilhavo na ceia de Natal:
Ingredientes:
2 Kg de Abóbora
Raspa de 1 limão
400 g de Açúcar
200 g de farinha de trigo
3 ovos inteiros
Canela q.b.
1 cálice de aguardente.

Confecção:
Cozer a abóbora na véspera, com alguma água e uma pitada de sal.

Depois de cozida, coloca-se dentro de um pano pendurado, a escorrer.

Vinte e quatro horas depois prepara-se a massa, misturando todos os ingredientes.

Fazem-se pequenas bolinhas dessa massa que vão a fritar em óleo abundante e a elevada temperatura.

Tirados da fritadeira, os bilharacos são escorridos e colocados numa travessa onde são polvilhados com açúcar e canela.

FELIZ NATAL E BOM APETITE.



domingo, 19 de dezembro de 2010

FELIZ NATAL 2010


PARA TODOS OS QUE VÊM AO MEU ESPAÇO, UM FELIZ NATAL, NA COMPANHIA DE QUEM MAIS DESEJAM....

VOTOS DO ESPAÇO JURÍDICO