"As discussões democráticas"
Eu ainda sou do tempo, "da outra senhora"...
Lembro-me que á mesa da cozinha da minha avó, ela contava-me histórias para eu acabar de comer a sopa.
Se ás vezes contava aquela da princesa que guardava patos, outras, limitava-se a recordar em voz alta, coisas de quando era nova.
Como aquela do tempo da implantação da Républica, que começava a rezar com a irmãs, para que o irmão chegasse a casa, "são e salvo", porque, segundo ela:" não havia governo que se aguentasse" dando origem a tumultos populares.
A vida da minha avó confinavasse á vida do lar, ao trabalho doméstico, á educação das filhas e a cuidar do meu avô. Não existiam discussões políticas á volta da mesa, apenas conversas comuns, sobre a família a subsistência familiar e outras do género.
Foi pois desta forma que conheci Salazar, segundo a minha avó, depois dele veio a ordem não tendo mais de rezar pela segurança do irmão.
Não sei se por isso, a primeira discussão democrática e política a que assisti, foi precisamente no dia em que Salazar morreu, tinha eu uns 13 anos.
Um casal amigo dos meus pais foi lá a casa levando a revista Paris Match. A capa era totalmente preenchida com a foto de Salazar, sendo este "o ponta pé de saída" para um verdadeiro combate de ideias políticas.
Chegados ao 25 de Abril de 74, tudo mudou.
As discussões e a troca de ideias políticas passaram a ser comuns no nosso dia a dia.
Desde que nos levantamos até que nos deitamos, ou pelos meios de comunicação ou por conversas de café, toda a gente, de uma maneira ou de outra, fala de política.
Será que ainda assim é? Penso que todo este civismo e esta sensação de liberdade democrática está gradualmente a acabar.
Hoje fala-se o que se pensa?
Talvez O CORRECTO SERÁ: " Não digo tudo o que penso, mas penso tudo o que digo".
Vejamos:
Caso Pedrosa
Caso Jaime Gama.
Casos(vários) Sócrates.
Caso "namorada do Sócrates"
Se calhar o melhor é ter cuidado...
Por outro lado, é muito difícil ser-se tolerante e flexivel, quando se tem a barriga vazia, se está desempregado, e cada vez mais sobre endividado.
Assistindo á opulência em que vivem alguns á custa do dinheiro dos contribuintes, e a uma justiça que não pune os corruptos, o sentimento de revolta será necessáriamente sentida pelo povo.
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O que assistimos ontem, na manifestação da CGTP, será uma das primeiras de muitas a que vamos assistir, contra a classe política.
O povo, confrontado com as necessidades e constatando a ineficácia dos mecanismos do Estado de Direito, será facilmente levado a exprimir a sua revolta através da intolerância e da violência.Pelo que, o dia de ontem deverá ser UM AVISO SÉRIO, para a nossa classe política.
A História é cíclica, e caso não mudem o seu comportamento, mais tarde ou mais cedo, assistiremos á mesma situação de que falava a minha avó, quando os Governos caiam sucessivamente, havendo o caos e a desordem.
E depois já se sabe, as portas estão abertas a um tal salvador...e á consequente extinção das discussões democráticas.
Publicação blogue "Sol": sábado, 2 de Maio de 2009 11:21 por Temis
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